Moreno ele era, e embora não fosse tão alto, bonito ou sensual como o cara da música, tinha algo de fascinante naquele moço, que era o sonho de consumo de muitas meninas. Não era exatamente lindo, mas tinha lá o seu charme e um sorriso malicioso. Trabalhava na loja favorita das adolescentes da cidade, e talvez por isso fizesse tanto sucesso com essa faixa etária. Talvez fosse o estilo garotão, apesar de já ser mais velho. Surfista, descompromissado, aparecia com uma mulher diferente a cada dia, e isso enchia de fantasias o seu fã-clube juvenil. Sim, ele tinha um fã-clube. Eram admiradoras fiéis, que se reuniam num apartamento no prédio vizinho ao dele para ver como era seu cotidiano. Quase um reality show.
Sua vida era acompanhada de perto pelas jovens apaixonadas. Todas sabiam seus horários de dormir, acordar, comer, ir trabalhar, jogar futebol, andar de bicicleta, surfar, ir à faculdade... e iam além. Faziam amizade com porteiros, empregadas, parentes, sobrinhos ou qualquer outra pessoa que pudesse dar informações preciosas sobre ele. Depois de um minucioso trabalho de investigação, já se sabia o que ele gostava de comer, o perfume que usava, sua preferência musical e até algumas manias. E isso gerava ainda mais ilusões, é claro.
À medida que as meninas iam crescendo, aquele amor platônico dava espaço a sentimentos mais reais. E os relacionamentos adultos trazem um pouco de sofrimento, algumas complicações, desilusões e tantas outras coisas que só a convivência proporciona. E o que era uma paixão avassaladora, vira a boa lembrança de um tempo em que gostar era tão fácil, tão bom e cheio de suspiros, que o moço nem precisava corresponder...