segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Derilane

Apesar do nome de manicure, ela tinha nível superior, e pra falar a verdade, só isso era superior nela. Media menos de 1,50m, vivia sobre sandálias de passista, de gosto duvidoso tinha os cabelos de uma cor indefinida entre o castanho, o loiro e o acaju, alisados pela volta ao mundo em escovas: francesa, marroquina, japonesa, jamaicana, havaiana e eslovena. Nenhuma tecnologia era suficiente pra domar aqueles fios. Mas, pior que seus cabelos espichados, era a mania insuportável de se fazer de boba, uma voz irritante com direito a um jeito tatibitate de falar, como se isso fosse meigo, e não ridículo pra alguém que já saiu da alfabetização.
Derilane era noiva de Lindolfo. Alto, jovem, bonito, bem-sucedido e sério, ele era um bom rapaz. Mas Derilane não se satisfez com o bom moço, e se envolveu com Mévio, um modelo mais antigo da categoria, que se apaixonou perdidamente por suas sandálias meia-pata de 20cm. Entre juras de amor e declarações explícitas de afeto, eles se encontraram por anos e anos. Lindolfo desconfiou, acabou o noivado, mas - desconheço os motivos - em pouco tempo reatou, com um pé atrás e uma pulga atrás de cada orelha. Derilane, sonsa, sempre se fazendo de vítima, sempre posando de intelectual e boa de coração, explicando seus atos com a desculpa de estar confusa entre a segurança estável de um bom rapaz, e o gosto de aventura que só o proibido proporciona, continua fazendo viagens de lua-de-mel, mas acho que na verdade isso é um pretexto pra experimentar o formol e a guanidina de todos os países do mundo. Às custas do manso Lindolfo, claro.

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