sábado, 30 de agosto de 2008

Horácio

Ele sempre andava em contramão. Horácio tinha potencial, mas não sabia o que fazer com ele. Ele conquistava as coisas sem muito esforço, e depois deixava pra lá, como um menino mimado que quer muito um brinquedo, e cansa dele assim que o tira da caixa. Alguém assim tão instável só podia mesmo ter uma vida muito complicada. Assim era Horácio. Refém das próprias escolhas, ele não sabia mais ser de outro jeito. O tempo passa mais devagar quando estamos insatisfeitos, até parece que o mundo faz de propósito, pra nós percebermos que estamos no caminho errado. E Horácio tinha vocação pras escolhas ruins. Onde quer que fosse, sempre havia um dedo apontado pra ele, e um nariz torcido, como se ninguém nunca tivesse escolhido um caminho errado. Resignado que era, Horácio fingia não perceber, e seguia sua vida atrapalhada. Às vezes alguém se compadecia, tentava mostrar outra direção, mas ele insistia teimosamente em continuar. Outras vezes, aparecia alguém que se esforçava e ia ajeitando tudo que havia pela frente, pra facilitar as coisas, mas Horácio nem percebia, em pouco tempo a pessoa já estava muito cansada e machucada por tentar carregar aquela bagagem grande demais que ele levava. Muita gente se aproximava dele pra pegar uma carona, já que também estavam seguindo naquela direção, e aproveitavam o máximo que podiam, depois sumiam, sem agradecimentos ou despedidas. Parece que o destino de Horácio era mesmo ser sozinho. Ele parecia sempre muito confortável carregando aquela mala imensa, ignorando os conselhos e os mapas que a ele ofereciam.
Se você encontrar com Horácio, não tente ajudá-lo, por mais que lhe parta o coração ver aquele bom moço carregando um fardo tão pesado. Se você encontrar com Horácio, dê meia-volta, porque é sinal de que você também está indo pelo caminho errado.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Contra o Cigarro

Como eu estou doente e impossibilitada de ficar sentada por muito tempo (na verdade eu tô sem conseguir nem raciocinar direito...), vai um vídeo.




Porque eu de-tes-to cigarro.
Com todas as minhas forças e crises alérgicas. Acho fedido, deselegante, e não entendo qual é o glamour que esse povo vê em se transformar num incenso de nicotina.
Fumar mata, e todo mundo sabe. E quem esquece disso quando sente o prazer da fumaça entrando em seus pulmões, certamente vai lembrar quando estiver com enfisema, sem fôlego nem pra dizer "oi, como vai?" aos que forem fazer aquela última visita. E os visitantes assim que saírem do quarto, vão dizer: "tá vendo o que é cigarro?".
E você sabe que isso é verdade, tanto quanto eu.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Terceira idade, aí vou eu.

Estou envelhecendo. De verdade. Um dia é uma tendinite no ombro, outro dia é o ciático pedindo água por causa de uma simples faxina. Uma impaciência fora do comum, uma intolerância sem medida... gente que fala alto, cachorro latindo sem parar, carro de som, banda ensaiando pro sete de setembro, torneira pingando, telefone tocando, fumaça de cigarro, menino chorando... tudo me incomoda, me irrita. Não tenho mais saco de ir a lugares onde não me sinto à vontade, e não faço mais a mínima questão de conversar com as pessoas, exceto as que eu gosto, claro. Paciência de enfrentar fila, eu nunca tive, então não é parâmetro. Mas rodar pelo shopping sem motivo, por exemplo, já não faz o menor sentido pra mim. Só pode ser velhice. Só espero que não seja disso pra pior.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Hoje acordei realista



Eu estava aqui o tempo todo.
Só você não viu.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Insônia Olímpica

Dormir cedo já não é uma das tarefas mais fáceis pra mim, e essas olimpíadas têm sido o pretexto que eu precisava pra ficar acordada até muito tarde. E pra não adormecer, vale ver qualquer coisa. Tiro, basquete, handebol, natação, ginástica artística, marcha atlética, nado sincronizado, tênis de mesa, tudo! Eu não preciso nem conhecer as regras, mas vejo. Luta greco-romana, vela, badminton, esgrima, eu não faço a mais vaga idéia de quem está ganhando até que o narrador anuncie, mas sempre acho a subida ao pódio emocionante. Torcer, torcer mesmo, eu só torço pelos meninos do vôlei. Aquele excesso de testosterona em quadra é de empolgar qualquer pessoa. Qualquer mulher, principalmente. E ver uma equipe tão entrosada, jogando com tanta garra é lindo. O vôlei tem uma união que o futebol, por exemplo, não tem. Não sei se é porque os jogadores da seleção de Dunga só estão juntos quando jogam, ou por causa dessa tradição de "país do futebol", que já dá a eles o status de estrelas. A verdade é que a equipe de Bernardinho entra em quadra com disposição, e não importa quem faz quantos pontos, o importante é ganhar. E quase sempre eles ganham. Essa história de país do futebol, pra mim, não cola. Na quadra ou na praia, masculino ou feminino, o Brasil é mesmo o país do vôlei. Está valendo a pena ficar acordada pra ver esse pessoal jogar. O sono? Giba nele!

domingo, 17 de agosto de 2008

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Pelo silêncio.

Quando você vai a um bar, uma festa, um shopping, já sabe a quantidade de barulho que vai encontrar. E se você não quer poluição sonora, fique em casa, onde não tem (pelo menos não deve ter) tanta gente falando alto e ao mesmo tempo. Exceto em tempos de política... vou dizer mais uma vez, e já estou quase convencida disso: tô ficando velha. Só pode ser. Ou os carros de som perseguem só a mim. Eles escolhem as proximidades da minha casa pra tocar suas musiquinhas toscas, que quando não são péssimos chicletes de ouvido, imitam músicas de sucesso, com o nome do candidato no refrão. Juntam-se o incômodo que o barulho me causa e a indignação com o monte de mentiras que esse povo promete, pronto, está formada A impaciência. Por acaso essas musiquinhas influenciam em alguma coisa na hora de votar? Por que os marketeiros não arranjam uma coisa mais moderna, silenciosa e eficiente?
Um dia desses, voltando do dentista, passou ao meu lado uma bicicleta de som, guiada por um senhor que devia ter lá pelos 60 anos, e usava uma roupa muito surrada. Naquela hora eu pensei: pelo menos ele arranjou como ganhar um dinheirinho a mais. É o mesmo pensamento que tenho quando vejo aquele pessoal segurando bandeiras enormes sob um sol de rachar. Mas não é esse tipo de emprego que os políticos têm que arranjar, né? Eu moro a menos de 200m de duas escolas, e os malditos carros (e também bicicletas) de som passam por aqui sim! Isso não é proibido? Já vi que só me resta respirar fundo até outubro, e torcer pra não ter segundo turno. Dos males, o menor.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Contra o Miguxês

Português não era minha matéria favorita no colégio, e até hoje eu não sei fazer uma análise sintática decente. Mas sempre procurei escrever as coisas do jeito certo, porque isso sim, é importante de verdade. Pode ser que eu seja muito radical, ou esteja ficando velha e ranzinza, mas não tem quem me faça suportar esse miguxês que meio mundo insiste em usar. Voxê num xabe ixclever dileito??? MOBRAL urgente, então. Qual é o sentido de complicar as coisas? Hoje tudo é mais prático e mais rápido, e vem esse maldito miguxês na contramão, fazendo a gente perder tempo tentando desvendar o que significa aquele excesso de X e W, as palavras pela metade e cada letra de um tamanho. MiGoW, vOxÊ tEm PaXiÊnxiA Pa Ixu? PuRkE eU NuM TeNhU! Antes eu até tentava traduzir, hoje em dia nem leio mais. E cada miguxice me dá calafrios. Qual a diferença de digitar um C ou um X? Não é a mesma quantidade de letras? Então por que "voxê" em vez de "você"? Por que "beiju" no lugar de "beijo"? "Miga, txi dolu" o que é isso, minha gente? É uma tentativa de meiguice? Vem aí uma geração de analfabetos retardados, pode esperar.

Recomendo: Miguxas Mortas - O sonho de qualquer pessoa da paz

domingo, 10 de agosto de 2008

Dia dos Pais

Eu não moro com o meu pai há tanto tempo que nem sei quanto, desde os meus 5 anos, acho. E como se não bastassem todas as minhas lembranças dele serem tristes ou violentas, nós moramos em cidades diferentes, e eu odeio estradas. A distância em nosso caso é real. Quando eu era criança, essa distância doía, na escola eu nunca participei de nenhuma festinha de dia dos pais e coisas do tipo. Na adolescência, o fato de ver o meu pai somente no meu aniversário me indignava. Aquela rebeldia típica da idade, sabe? E hoje? Bem, hoje eu nem sei. Meu pai não sabe que eu não como carne, e todas as vezes que me levou pra comer, me levou a uma churrascaria. Ele não sabe que eu não gosto de conversas filosóficas, e só sabe falar assim comigo. Não sabe que sou eu que escolho quando abraçar, e sempre me abraça, por mais que eu diga que detesto intimidade forçada. Hoje não sinto falta dele, mas também não tenho raiva. Ele é só um velho conhecido, e o dia dos pais é só mais um domingo tedioso, como qualquer outro.

sábado, 9 de agosto de 2008

Deixa que eu seja eu



E aceita
O que seja seu

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Nem aqui, nem na China.

Certamente nunca houve no mundo um espetáculo como foi a abertura das olimpíadas hoje. Coisa linda, de arrepiar mesmo. Pra falar a verdade, me emocionei em váááários momentos, mas como eu choro até com o Lata Velha do Caldeirão do Huck, essa não deve ser uma referência muito válida. Mas foi incrível, de verdade. "Um Mundo, Um Sonho", e só o esporte pra conseguir fazer a gente achar que isso é possível em algum momento. Que linda a menininha de vestido vermelho cantando enquanto a bandeira da China entrava, e os 2008 tambores perfeitamente sincronizados fazendo um espetáculo de luz e som, uma contagem regressiva de arrepiar. Os fogos de artifício, de colocar qualquer réveillon no chinelo, nada mais justo no país onde surgiu a pólvora, né? Uma profusão de cores, luzes, pessoas e sons, sem que nada fosse exagerado ou de gosto duvidoso. Simplesmente perfeito. Quem conseguiu pensar nos problemas da China durante aquelas 4h no ninho do pássaro? Como se não existissem diferenças entre eles, lá estavam milhares de atletas de todas as partes do mundo, todos com a emoção de quem alcança um objetivo estampada no rosto. "Um Mundo, Um Sonho". Mais adequado, impossível.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Sério


"Fique à vontade, meu bem
Sinta vontade de ficar
Não tenha pressa
Quem sabe aqui é seu lugar
Mas se tiver de ida
Vê se não vai assim sem mim".

(CMTN)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Pega, estica e puxa.

Ontem eu tive que escolher um dos seguintes brindes L'Oréal: um filtro solar, um chapéu de praia ou um anti-rugas. O que eu escolhi? O anti-rugas! Sim, eu preciso mais do filtro solar, mas eu não resisto a um creminho com promessas contra o envelhecimento. É bem verdade que com o tempo eu vou esquecendo de passar regularmente, e eles ficam encostados no fundo da gaveta até perderem a validade, mas não tem jeito, eu preciso tê-los. É que às vezes eu descubro uma ruguinha aqui, outra ali, e fico paranóica, pensando como ficarei parecendo um maracujá de gaveta aos 40 anos. Aí eu abro a gaveta e encontro aquele monte de maravilhas cosméticas revolucionárias, e uso todas religiosamente até que eu esqueça da tal ruga. Ontem eu tive que experimentar o tal preenchedor colágeno, esse talvez eu consiga usar certinho, já que tem uma embalagem mais prática. Tomara que funcione. A preocupação de hoje, com certeza evitará os desastres de amanhã. Se Elza Soares tivesse pensado assim, tava melhorzinha hoje, né?