sábado, 30 de agosto de 2008

Horácio

Ele sempre andava em contramão. Horácio tinha potencial, mas não sabia o que fazer com ele. Ele conquistava as coisas sem muito esforço, e depois deixava pra lá, como um menino mimado que quer muito um brinquedo, e cansa dele assim que o tira da caixa. Alguém assim tão instável só podia mesmo ter uma vida muito complicada. Assim era Horácio. Refém das próprias escolhas, ele não sabia mais ser de outro jeito. O tempo passa mais devagar quando estamos insatisfeitos, até parece que o mundo faz de propósito, pra nós percebermos que estamos no caminho errado. E Horácio tinha vocação pras escolhas ruins. Onde quer que fosse, sempre havia um dedo apontado pra ele, e um nariz torcido, como se ninguém nunca tivesse escolhido um caminho errado. Resignado que era, Horácio fingia não perceber, e seguia sua vida atrapalhada. Às vezes alguém se compadecia, tentava mostrar outra direção, mas ele insistia teimosamente em continuar. Outras vezes, aparecia alguém que se esforçava e ia ajeitando tudo que havia pela frente, pra facilitar as coisas, mas Horácio nem percebia, em pouco tempo a pessoa já estava muito cansada e machucada por tentar carregar aquela bagagem grande demais que ele levava. Muita gente se aproximava dele pra pegar uma carona, já que também estavam seguindo naquela direção, e aproveitavam o máximo que podiam, depois sumiam, sem agradecimentos ou despedidas. Parece que o destino de Horácio era mesmo ser sozinho. Ele parecia sempre muito confortável carregando aquela mala imensa, ignorando os conselhos e os mapas que a ele ofereciam.
Se você encontrar com Horácio, não tente ajudá-lo, por mais que lhe parta o coração ver aquele bom moço carregando um fardo tão pesado. Se você encontrar com Horácio, dê meia-volta, porque é sinal de que você também está indo pelo caminho errado.

Um comentário:

Anônimo disse...

É, é isso. Horácio anda por aí de venda nos olhos. A recompensa foi saber que pelo menos uma pessoa não queria nada que viesse dele, só o próprio.